O
professor e historiador Marcelo Oliveira descreve a constituição social do negro até século atual, destacando a
importância de políticas públicas que acelerem o processo da consciência negra
na sociedade atual
Por Donaire Verçosa
A discussão em torno do negro envolve a constituição
étnica variada e como composição central de um país com base branca, visto que a
colonização foi feita por portugueses, um dos motivos que permeia o processo
discriminatório do negro no Brasil, como também em Catu.
O assunto é discutido em diversas escalas da sociedade,
órgãos oficiais, por estudiosos e pesquisadores do assunto, inclusive no
ambiente educacional. Mas, mesmo tendo a mistura das raças compondo a população
do país, desde a descoberta do continente, a ideia de uma sociedade democrática
é desconstruída quando se faz uma análise socioeconômica mais aprofundada.
Segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatísticas), do último senso em 2010, Catu é uma cidade formada em sua
maioria por negros e pardos. São 51.077 pessoas, 9.361 são negras e 34.124
pardas. Outro dado relevante é que a maior parcela da população economicamente
ativa é composta por negros e pardos, ou seja, a mão de obra em Catu é
basicamente afrodescendente, que não é diferente da maioria dos estados
brasileiros, herança da colonização.
A escravidão que acabou a cerca de 150 anos, caracteriza
uma nação que tem uma história relativamente recente em relação a outros povos.
Segundo o professor Marcelo Oliveira, do Instituto Federal de Educação, Ciência
e Tecnologia (campus Catu), outra herança do Brasil colonial é construção da
imagem do negro como uma mão de indivíduos subservientes, tido como alguém que
podem apenas desempenhar trabalho braçal – sendo esses nessa mesma visão, tido
como inferior sob o comando do branco, ideia essa construída pela antiga e
arcaica classe senhorial; essas relações de trabalho escravo vigentes no Brasil
Império, essa visão, ao contrário do que se possa pensar, ainda não foi
desconstruída nos dias atuais.
Essas
concepções são fruto de preconceitos historicamente construídos e estão
arraigados há séculos na sociedade. Continuam presentes, por exemplo, tanto nas
relações de gêneros, no que tange a diversidade sexual, quanto de cor e raça. Os
recentes casos de racismo, homofobia e preconceito contra a mulher nos mostram
que mesmo com o avanço dos debates sobre esses temas, há muito ainda que se
debater, que se trabalhar.
Quando
eu era a criança, eu acreditava que nem todos os ambientes eram para mim, pois
eram ambientes destinados a gente de outra cor e de outra class. Demorou anos
para eu me convencer que isso não era verdade, foi uma construção paulatina a
partir do meu processo educacional que me ajudou a descontruir essa visão
distorcida. Imagine que uma criança percebe isso e se convence dessa
perspectiva da inferiorizarão racial e não é nada fácil diluir.
O historiador é apaixonado pela cidade de Catu e
estudioso do racismo cientifico, o qual acredita imperar na estrutura de todas
as bases de representações sociais, procurou respaldar isso nas suas pesquisas
para o livro que escreveu: “A Imperial Vila de Santana do Catu”,
história de uma comunidade escravista no
recôncavo baiano da editora Quarteto.
As histórias contadas no livro retratam o cotidiano dos
escravos dentro dos engenhos, as lutas para conseguir a alforria, além de
memórias de descentes de escravos, que respaldam a tese defendida por Marcelo
que: tanto em Catu como em todo território nacional, os negros sempre ficaram a
margem das conquistas da sociedade, conduta advinda, por exemplo, do trabalho
braçal nos canaviais catuenses.
No livro o historiador descreve que os senhores de
engenho acreditavam ser serviço apenas para os negros e por isso houve entre os
anos 1860 a 1880 uma forte resistência dos proprietários libertarem seus
escravos, por acreditarem que nem estrangeiros nem negros forros suportariam o
trabalho pesados dos canaviais e também os serviços extras das fazendas.
A massa pobre dominante atualmente ainda é formada por
negros, porém, segundo Marcelo, “a formação intelectual do indivíduo é libertadora
para a o lugar de subserviência que a sociedade e a política colocam o negro,
já que a maioria dos representantes no poder público em Catu e no Brasil, são
brancos ou assim se consideram.
Quando
o negro tem acesso à educação, a uma formação intelectual mais apurada, tem a
chance de se colocar em melhores postos de trabalho e em melhor representação
social. Ou seja, não é a questão da cor que inviabiliza a ocupação desses
postos privilegiado e de trabalho e sim as condições e oportunidades que o
indivíduo pode ou não ter...
Algo
ainda muito presente no inconsciente do povo é a ideia do racismo cientifico. Um
discurso que ressalta que um país só seria desenvolvido quando ele conseguisse
se embranquecer, ou seja, o negro casa com branco para ir clareando a pele,
para que as gerações futuras tenham as características físicas predominante do
branco, inclusive a pele, porém, preservando o vigor e a força da raça negra.
Um
discurso bastante presente no imaginário coletivo é proveniente do racismo
cientifico. Um discurso que ressalta que um país só seria desenvolvido quando
ele conseguisse se embranquecer, ou seja, o negro casa com branco para ir clareando
a pele, para que as gerações futuras tenham as características físicas
predominante do branco, inclusive a pele, porém, preservando o vigor e a força
da raça negra. ” De uma maneira ou de outra, esse discurso ainda move práticas,
representações e outros discursos na sociedade.
“Séculos
de discurso racista não serão desconstruídos com facilidade”, é
o que defende o estudioso da questão, porém, pontua que: “sem sombras de dúvidas, o
caminho para a mudança na mentalidade social e comportamental, está em se discutir
amplamente o tema em todos os espaços sociais e também na implementação de
políticas públicas que possibilitem a raça negra afirmação dentro da sociedade.
Não
existe hoje em Catu, políticas de promoção da igualdade racial sólidas e
concretas. Acredito que a escola pública catuense precisa promover ainda mais a
cultura jovem negra com projetos de intervenção com foco especifico no que
ordena a Lei 11.645/2008, que inclui a obrigatoriedade do Ensino da História e
Cultura Afro-brasileira e Indígena. Peço
ainda que as autoridades criem formas e espaços para que os todos possam
expressar livremente essa cultura, contribuindo para processo de conscientização
da igualdade racial no município catuense. ”
Fotos: Donaire Verçosa
onde posso encontrar esse livro para comprar?
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